terça-feira, 30 de setembro de 2014

Manejo ecológico do solo é tema de oficina em Nova Friburgo

Foto: Paulo Filgueiras
Iniciativa estimula adoção de tecnologias sustentáveis, como a produção de adubo natural fermentado

Com o objetivo de estimular cada vez mais a adoção de práticas agroecológicas entre os agricultores familiares, a Rede de Pesquisa, Inovação, Tecnologia e Serviços Sustentáveis em Microbacias Hidrográficas (fórum articulado pelo Programa Rio Rural que reúne instituições parceiras do setor agropecuário) promoveu no dia 17 de setembro uma oficina sobre manejo ecológico do solo, no campo experimental do Centro Estadual de Pesquisa em Horticultura da Pesagro-Rio, instalado na localidade Campestre, em Nova Friburgo.

Organizada pelo grupo de trabalho sobre insumos agroecológicos da Rede de Pesquisa, a atividade incluiu palestras sobre a natureza do solo tropical, compostagem a partir de resíduos vegetais e animais e conservação do solo. Na parte prática, foi produzido o composto orgânico do tipo bokashi, que acelera o processo de regeneração do solo. O material foi preparado com auxílio de uma betoneira, cuja capacidade total é de 400 litros.

Foto: Paulo Filgueiras
A engenheira agrônoma e consultora do Rio Rural, Ana Paula Pegorer, promoveu uma reflexão sobre o equilíbrio da natureza em comparação à realidade da produção agropecuária brasileira. Segundo ela, um dos grandes problemas da região é o solo desprotegido, que fica sempre sujeito à erosão e que provoca o desequilíbrio na nutrição das plantas. “O manejo agroecológico é muito mais amplo que apenas usar o composto do tipo bokashi. O mato, por exemplo, é uma fonte de alimento para a vida do solo. É o agricultor trabalhando sempre em sintonia com a natureza, pois a terra é um bem que precisa estar disponível para as próximas gerações”, defendeu.

Já Eiser Felippe, também consultor do Rio Rural, falou sobre as vantagens da adubação com matéria orgânica através de um composto feito com resíduos dos cultivos vegetal e animal, experiência que já rendeu resultados positivos nos municípios de São José do Vale do Rio Preto e Trajano de Moraes. Neste caso, podem ser utilizados ingredientes como camas de cavalo e de aviário, restos de culturas, sobras de agroindústria, palhas, cascas, serragem, esterco, resíduos de abatedouros e incubatórios (sangue, ovos e penas), entre outros. “Esse composto é, basicamente, a mistura de fontes de matéria orgânica, sendo necessariamente uma delas com a relação carbono/nitrogênio alta e a outra, baixa. Todo esse material decomposto vai se transformar em húmus, que, por sua vez, vai aumentar a fertilidade e melhorar a vida do solo, além de diminuir a incidência de pragas e doenças nas plantas”, explicou o engenheiro agrônomo.

Alternativa sustentável

A produção do adubo do tipo bokashi foi coletiva. Para a composição, é preciso combinar na proporção correta um farelo (arroz, trigo, cevada e/ou milho), uma torta vegetal (oleaginosas como mamona, girassol, soja e/ou amendoim), minerais (fosfato natural, calcário ou pó de pedra) e outros materiais (cascas, palhas, resíduos de agroindústrias, farinha de carne e osso e/ou farinha de peixe). Após a mistura dos farelos, coloca-se, aos poucos e com auxílio de um regador, a solução de água sem cloro, açúcar mascavo e fermento (EM – Microorganismos Eficazes, Kefir ou Embiotic). A mistura deve ser armazenada numa bombona ou num saco de ráfia forrado durante 21 dias. No final do processo, o adubo pode ser aplicado nas lavouras de frutas, legumes, verduras e flores.

Thais Schuenck é técnica em agropecuária e, com auxílio da família, cultiva couve-flor, brócolis e alface, além de dedicar parte do tempo na criação de galinhas, porcos e cavalos na localidade Centenário. Ela não conhecia o adubo e garante estar disposta a experimentá-lo. “É uma nova técnica, de fácil acesso ao produtor e, com a betoneira, dispensa mão-de-obra. Assim que estiver pronto, vou usar a mistura produzida na oficina na horta do meu sítio”, disse.

O engenheiro agrônomo Daniel Dias, do Núcleo de Pesquisa Participativa do Rio Rural, explica que a betoneira ficará à disposição dos agricultores da região que se interessarem em produzir o adubo em maiores quantidades, em regime de mutirões. “Tudo vai funcionar através de parceria. A ideia é estimular o uso do bokashi para melhorar a produtividade e a qualidade dos produtos”, afirmou.

Nos próximos meses, estão previstos outros eventos para atender à demanda local dos agricultores orgânicos e agroecológicos, cumprindo as metas do Plano de Desenvolvimento da Cadeia de Orgânicos, construído por técnicos e produtores durante as reuniões de trabalho da rede de pesquisa. Além de Nova Friburgo, outros municípios da região já estão sendo beneficiados por atividades de formação em agroecologia, como Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto, Sumidouro, Teresópolis e Trajano de Moraes.

Participaram da oficina estudantes do Colégio Estadual Agrícola Rei Alberto I (Ibelga), agricultores de Nova Friburgo, Teresópolis e Sumidouro, além de técnicos da Embrapa Agrobiologia, Prefeitura, Ceasa-RJ, Emater-Rio e Pesagro-Rio.

Foto: Paulo Filgueiras

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