domingo, 24 de maio de 2015

Rio: rotas de medo, por Marcos Espínola

Em seu novo artigo, o advogado criminalista Marcos Espínola aborda  o caso do alpinista que foi morto a tiros ao errar o caminho e entrar em uma comunidade. Além de afirmar que no Rio o único caminho certo é o do medo, o resto é sempre uma incerteza. Confira!

A execução do Alpinista Ulisses da Costa é mais uma tragédia que choca os cariocas não só pela brutalidade, mas pelo motivo fútil, ou seja, um cidadão errar o caminho e entrar numa rua que, teoricamente é permitida, mas que na realidade, é um território proibido, dominado por um poder sangrento, que determina o acesso. Em verdade, não há internet ou GPS que nos salvem, pois o Rio como um todo virou uma rota nebulosa, na qual a única certeza no caminho é o medo.

Esse episódio nos faz refletir sobre a que ponto chegamos enquanto cidadãos que pagam devidamente seus impostos. Independente de haver comunidades com poder aquisitivo menor ou maior, como os condomínios luxuosos, fechados ao público, temos o direito de ir e vir garantido pela Constituição. Nada justifica sermos alvejados.

Não foi a primeira vez que isso aconteceu e nem será a última. Em 2013, o engenheiro Gil Barbosa foi baleado na entrada do Complexo da Maré quando se dirigia ao Aeroporto Internacional e, equivocadamente, entrou na favela. Em 2011, Valdemiro dos Santos foi morto quando ia para casa pela Via Light quando o motorista do carro em que se encontrava errou o caminho e entrou no Morro do Chapadão, sendo alvejados por traficantes. Neste mesmo ano outra vítima, um policial foi morto também na Maré.E se realizarmos um levantamento mais profundo identificaremos vários casos semelhantes e em lugares distintos da Cidade.

Isso significa que não há uma regra ou uma probabilidade maior ou menor. São mais de mil favelas espalhadas em vários pontos do Rio, da Zona Norte à Zona Sul. Quase 100% delas com a presença de traficantes, mesmo as que já contam com a presença das Unidades de Polícia Pacificadora.

Recentes declarações do Secretário de Segurança trouxe uma reflexão para toda a sociedade. Ele apontou a necessidade de outros agentes sociais para conter desde moradores de rua que cometem furtos no Centro da Cidade até a presença de traficantes em comunidades já retomada pelo Estado. Em verdade, o que ele apontou é o que reivindicamos há tempo, ou seja, só a presença da polícia não dará conta de violência em nenhum lugar do mundo. É preciso outras ações sociais para fortalecer não o relacionamento de moradores com a polícia, mas a cidadania como um todo.

Uma Cidade que recebe turistas do mundo inteiro e que sedia inúmeros eventos internacionais, não pode ter uma sociedade amedrontada e com a certeza de que a qualquer momento um caminho errado a levará a morte.

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