domingo, 6 de março de 2016

Pela vida das mulheres

Em 2015, o movimento #AgoraÉQueSãoElas ficou conhecido por abrir espaços para ativistas feministas manifestarem sua luta contra as opressões. A campanha trouxe para a grande mídia o debate sobre o silenciamento das mulheres e, nesse caminho, cedi esse espaço para Maria Isabel Tancredo, minha filha, estudante de Direito e militante feminista

“A cada dois dias uma mulher morre por conta de um aborto inseguro. Uma em cada cinco, com mais de 40 anos, já abortou. Cerca de 200 mil por ano recorrem ao SUS por causa de maus procedimentos. Estima-se que 7,4 milhões de brasileiras já fizeram pelo menos um aborto. São todas clandestinas e precisamos falar sobre isso.

Como boa parte das discussões que envolvem as mulheres, a interrupção da gravidez vem acompanhada de elementos que afastam a questão primordial: o direito que temos sobre o nosso próprio corpo. Abortos acontecem todos os dias, mas são poucas as que podem realizá-los de forma segura. É evidente que as mulheres pobres são mais atingidas pela criminalização, uma vez que as de classe alta e média arcam com os custos do aborto seguro. Lutar pela legalização do aborto é também lutar contra a criminalização da pobreza.

Não busco aqui reverter quaisquer convicções religiosas ou políticas, pois, sendo terminantemente contra o aborto que, simplesmente, não o faça. Porém, os números não negam que, no Uruguai, por exemplo, após a legalização, os abortos caíram de 33 mil para 4 mil por ano. Isso porque o caminho é mais simples do que se imagina: educação sexual para prevenir, contraceptivo para não engravidar e aborto legal e seguro para não morrer.

A legalização do aborto é pela vida das mulheres. Mulheres essas que cumprem jornada dupla de trabalho, veem a criação dos filhos julgada, roupas questionadas, são alvos de violências cotidianas, são oprimidas em relacionamentos abusivos, assediadas e discriminadas no mercado de trabalho – opressões essas multiplicadas quando a mulher é negra e pobre.

Quantas vidas e direitos serão perdidos até que se reconheça a ainda radical percepção feminista: a ideia de que as mulheres são gente.”

João Tancredo é advogado especializado em Responsabilidade Civil
Maria Isabel Tancredo é acadêmica em Direito

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