Em 2015, o movimento #AgoraÉQueSãoElas ficou conhecido por
abrir espaços para ativistas feministas manifestarem sua luta contra as
opressões. A campanha trouxe para a grande mídia o debate sobre o silenciamento
das mulheres e, nesse caminho, cedi esse espaço para Maria Isabel Tancredo,
minha filha, estudante de Direito e militante feminista
“A cada dois dias uma mulher morre por conta de um aborto
inseguro. Uma em cada cinco, com mais de 40 anos, já abortou. Cerca de 200 mil
por ano recorrem ao SUS por causa de maus procedimentos. Estima-se que 7,4
milhões de brasileiras já fizeram pelo menos um aborto. São todas clandestinas
e precisamos falar sobre isso.
Como boa parte das discussões que envolvem as mulheres, a
interrupção da gravidez vem acompanhada de elementos que afastam a questão
primordial: o direito que temos sobre o nosso próprio corpo. Abortos acontecem
todos os dias, mas são poucas as que podem realizá-los de forma segura. É
evidente que as mulheres pobres são mais atingidas pela criminalização, uma vez
que as de classe alta e média arcam com os custos do aborto seguro. Lutar pela
legalização do aborto é também lutar contra a criminalização da pobreza.
Não busco aqui reverter quaisquer convicções religiosas ou
políticas, pois, sendo terminantemente contra o aborto que, simplesmente, não o
faça. Porém, os números não negam que, no Uruguai, por exemplo, após a
legalização, os abortos caíram de 33 mil para 4 mil por ano. Isso porque o
caminho é mais simples do que se imagina: educação sexual para prevenir,
contraceptivo para não engravidar e aborto legal e seguro para não morrer.
A legalização do aborto é pela vida das mulheres. Mulheres
essas que cumprem jornada dupla de trabalho, veem a criação dos filhos julgada,
roupas questionadas, são alvos de violências cotidianas, são oprimidas em
relacionamentos abusivos, assediadas e discriminadas no mercado de trabalho –
opressões essas multiplicadas quando a mulher é negra e pobre.
João Tancredo é advogado especializado em Responsabilidade Civil
Maria Isabel Tancredo é acadêmica em Direito
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