Há todo sentido na polêmica sobre a busca incessante da
polícia ao foragido Fat Family, que foi resgatado de dentro de um hospital.
Afinal, a logística dessa captura, mobilizando inúmeros batalhões da Polícia
Militar, não parece privilegiar a inteligência investigativa e operacional.
Além do alto custo num momento de grave crise financeira do estado do Rio de
Janeiro, incluindo a área de segurança, tais investidas causam pânico e
derramamento de sangue. São ações aparentemente desordenadas e ineficazes, que
põem em risco cidadãos inocentes.
Nas últimas semanas foram várias incursões na Zona Norte e
Oeste, Centro e Baixada Fluminense, contando com homens de quase 30 batalhões
da PM. Foram presas mais de 100 pessoas, mas o acusado não foi localizado,
tampouco nenhum suspeito ligado a ele.
No entanto, o rastro deixado foi de muita troca de tiros,
mortos e feridos. E nessa linha de fogo estavam moradores e crianças apavorados
e indefesos diante de um clima de terror.
É evidente que a política de segurança pública no Brasil
estabelece um estado de guerra, criado e reproduzido pelo próprio Poder Público
há décadas. A filosofia de combate armado ao inimigo e de guerra às drogas é
falho e só provoca mortes, chacinas e o crescimento da violência.Um sistema que
se mostrou um fracasso e, por isso, já foi abortado por países, como Holanda,
EUA e Portugal, que repensam essa política.
Nessa lógica de guerrilha, ninguém vence e todos sofrem. Os
policiais, orientados para a violência, são mortos, torturados e adoecem. Do
outro lado da “trincheira”, há um exército com reserva interminável fornecido
por um Estado que ignora garantias constitucionais básicas.
Os direitos à educação, à saúde e à moradia são grandes mitos
do folclore brasileiro. Em pleno século XXI, ainda nos deparamos com essa
negligência do Estado que não oferece para grande parcela do povo, condições
dignas de vida para que possam buscar um futuro melhor. O funk “Tá tudo
errado”, dos MCs Júnior e Leonardo, ilustra essa questão quando diz “...o
futuro da favela depende do fruto que tu for plantar”.
Portanto, enquanto pessoas morrem nas filas de hospitais,
crianças ficam sem escola, professores sem salários e famílias sem casa e
terra, a política de segurança pública se mostra, cada vez mais, uma grande e
cara máquina de enxugar gelo.
João Tancredo é Advogado
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