Discutir sobre o líquido sustentador da vida e se o
utilizamos de modo sensato é na atualidade uma pauta indispensável. O Brasil,
de forma geral, pode se considerar privilegiado, como declarou o dr. Paulo
Lopes Varella Neto, ex-diretor de Gestão da Agência Nacional de Águas (ANA).
Ele explica: “Nós somos o país que mais dispõe de água doce no mundo, e 12%
dela é gerada em território nacional. Mas, se considerarmos a água que vem de
outros países e que por aqui passa e, portanto, está disponível para uso,
dispomos de aproximadamente 18% da água doce na Terra”. Contudo, a questão é
conseguir administrar bem essa fartura, a fim de atender às necessidades de
todos. Apesar de abundante em certas regiões, ela é escassa em outras. Um ponto
igualmente relevante é o cuidado que devemos ter para não degradar os recursos
hídricos.
Integrador geográfico e geopolítico
O dr. Paulo Varella, que é hidrogeólogo, trouxe-nos um
exemplo interessante: “Como a água carrega no seu sabor, na sua cor, no seu
cheiro a memória dos territórios por onde passa, ela é um integrador
geográfico. E, como também não respeita limites de Estados, nem mesmo de
países, ela é um integrador geopolítico. De maneira que vi, há pouco tempo, ao
visitar uma determinada instalação nos Estados Unidos, uma frase que me chamou
a atenção e agradou: ‘No mundo da água estamos todos ajudantes’. O que quer
dizer o seguinte: temos responsabilidades de que a água que passa por nós, a
que usamos, afetará a outros que estão mais abaixo. E a água que estamos usando
certamente já passou por alguém que estava águas mais acima”.
Falando ao Portal Boa Vontade, comentou: “O esforço que a
Agência Nacional de Águas faz, que o governo faz, que os comitês de bacias
fazem, tem como motor a posição individual de cada um de nós. Os maiores
gestores de água do planeta somos nós. Se cada um tomar consciência disso, tudo
pode mudar. Temos que passar de observadores para atores dentro desse processo.
E é na forma como se vai colocar o lixo, como vai tomar o banho, lavar o carro,
e assim por diante, que a gente pode realmente dar uma contribuição (...)”.
Ao informar-nos do reconhecimento alcançado pelo nosso país
no mundo por seu modelo de gestão da água, não deixou de expor também os
imensos desafios que enfrentamos, por exemplo, com grandes cheias na Amazônia;
secas históricas em São Paulo, Rio, que se repetem e que, há décadas, afetam o
nordeste do Brasil, no semiárido. Diz ele: “Apesar de toda a riqueza que
possuímos, realmente a gente tem que se preocupar em encarar a questão do
gerenciamento desse recurso”.
Valendo-se do Dia Mundial da Água, o entrevistado desejou
ainda ressaltar: “Que entendamos a água como um grande vetor de progresso, e os
usos múltiplos são absolutamente cruciais para que possamos ter um
desenvolvimento sustentável. E termino dizendo da importância que acredito seja
o papel de cada um de nós enquanto — vamos chamar — minigestores, mas num
conjunto de grandes gestores dessa água”.
Agradeço ao dr. Paulo Lopes Varella suas esclarecedoras
palavras. Aliás, com satisfação, soube que é um frequentador do Templo da Boa
Vontade e possui destacada Fé na Espiritualidade Maior.
José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário