Em entrevista concedida à pedagoga Suelí Periotto, a dra.
Mônica Andreis, mestre em psicologia clínica pela USP, vice-diretora da Aliança
de Controle do Tabagismo (ACT), destacou o papel da escola na prevenção desse
vício: “É a oportunidade que o educando tem de aprender um pouco mais sobre o
tabagismo e, com isso, ter mais consciência da importância de não começar a
fumar. A escola pode contribuir bastante não só enfocando a questão da saúde,
contudo ir além, com a discussão sobre por que as pessoas fumam, o papel da
propaganda, o quanto isso afeta não só a saúde, mas o meio ambiente em que se
vive. Os estabelecimentos de ensino podem abordar o assunto sob diferentes
ângulos. O acúmulo de bitucas, por exemplo, é uma das coisas que mais poluem as
praias brasileiras, que matam animais marinhos, porque se engasgam com aquilo;
muitas florestas acabam sendo devastadas para a produção de cigarro, pois se
usa lenha, se usa papel. E essas informações são muito importantes. Os alunos
podem levar esse conhecimento para casa e partilhar com seus pais, familiares
ou a própria comunidade. A escola pode organizar uma feira de ciências, e esse
pode ser um tópico a ser discutido; apresentar um filme, chamar a família para
participar e depois fazer um debate. Temos várias maneiras de explorar o
assunto, e os educadores têm um papel fundamental na prevenção do tabagismo”.
Lei antifumo
Segundo a dra. Mônica, a lei antifumo contribui de fato para
o desinteresse da criança pelo cigarro: “Hoje, esse impedimento é um
desestímulo para que ela comece a fumar, porque as pessoas não estão mais fumando
em todos os lugares como se fazia antigamente. Isso, aliado a uma abordagem da
escola sobre o tema, de uma forma constante, acaba favorecendo para que não se
comece a fumar na adolescência”.
O poder da influência
Indagada a respeito dos aspectos emocionais que podem
influenciar a criança e o jovem, com relação ao tabagismo, a dra. Mônica
esclareceu ainda: “Alguns fatores acabam favorecendo para que elas experimentem
ou comecem a fumar. A gente sabe que filhos de pais fumantes têm maior
tendência de se tornar fumantes no futuro. Muitas crianças começam a fumar por
causa desse modelo que elas têm em casa, ou mesmo na escola, daquele professor
que admiram e que fuma. Daí a necessidade dessa consciência por parte dos
familiares e dos professores, do poder de influência que possuem sobre a vida
de uma criança. Além disso, na adolescência, a gente passa por uma série de
modificações. É natural que a insegurança apareça e, às vezes, o cigarro é a
válvula de escape na busca de um prazer instantâneo. É importante que a criança
tenha essa percepção de que fumar não irá lhe trazer sustentabilidade ou lhe
garantir sucesso na vida. O cigarro é uma droga e, uma vez que a criança o
experimente, pode torná-la facilmente uma dependente química. Então, se ela
tiver essa consciência, consegue, naturalmente, dizer não”.
Morte evitável
Em suas considerações finais, a psicóloga Mônica Andreis
enfatizou que “o fumo passivo é considerado pela Organização Mundial da Saúde a
primeira causa de mortes potencialmente evitável. É uma dimensão muito grande.
Na verdade, como a gente tinha antes toda uma avaliação cultural de que o
tabagismo não era um problema tão grave assim, as pessoas negligenciavam um
pouco isso. Hoje temos informações e a clareza do malefício do tabaco para a
saúde. É importante também que a escola possa valorizar isso e, de fato,
implantar atividades para auxiliar os jovens no conhecimento e na prevenção”.
Grato, dra. Mônica. Nas escolas da Legião da Boa Vontade e
nos seus programas socioeducacionais, o assunto é tratado com a seriedade
devida. É o nosso contributo a fim de alertar principalmente as futuras
gerações quanto ao efeito destruidor do tabagismo.
José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com
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