Dez deputados estaduais do Rio de Janeiro são investigados por uso da Alerj, a serviço de
interesses da organização criminosa do ex-governador Sérgio Cabral (MDB) que,
em troca, pagava propina mensal (“mensalinho”) durante seu segundo mandato
(2011-14). De acordo com as investigações, a propina resultava do sobrepreço de
contratos estaduais e federais. Além de Cabral, tinham função de comando na
organização investigada os ex-presidentes da Alerj Jorge Picciani e Paulo Melo,
presos antes na Operação Cadeia Velha e com novas ordens de prisão.
“Mensalinho” e “prêmios” – As investigações – que incluem
relatos de colaboradores, corroborados por provas independentes colhidas pelo
MPF e pela PF – apontaram que o “mensalinho” e os “prêmios” eram pagos a deputados, como contrapartida por votos em favor de projetos de lei
de interesse da organização e por atuações contra o avanço de Comissões
Parlamentares de Inquérito (CPIs), entre outros serviços. Os “mensalinhos”
foram confirmados num sistema dos doleiros “Juca Bala” e “Tony”, que permitiu
identificar data, valor e recebedor de quantias intermediadas por Carlos
Miranda, um operador de Cabral.
Detran e Palácio Guanabara – Outros alvos foram, o secretário
de Governo, Affonso Monnerat; o presidente do Detran/RJ, Leonardo Silva Jacob,
e seu antecessor Vinícius Farah, recém-eleito deputado federal pelo MDB. Eles
são investigados pela distribuição de cargos públicos e de vagas de trabalho em
empresas fornecedoras de mão de obra terceirizada, principalmente para o Detran
– outro tipo de vantagem ilícita.
Os deputados repartiam os postos do Detran, segundo sua área
de influência política, para indicarem pessoas a suas vagas de trabalho. Essas
indicações viabilizavam a ingerência desses políticos sobre o Detran local,
possibilitando desenvolverem seus próprios esquemas criminosos. Monnerat foi
alvo de prisão por ter aparecido em conversas telefônicas e em planilhas
encontradas na operação Cadeia Velha como intermediador de indicações políticas
de mão de obra terceirizada.
As interceptações telefônicas revelaram que, por meio das
indicações, tanto os deputados como seus assessores intermediavam, por exemplo,
o reagendamento de provas de pessoas sem pontuação mínima para obterem a
habilitação e a liberação, em vistorias, de veículos em mau estado ou com
pendências. Também foi descoberto o uso, nas últimas eleições, dessa mão de
obra para promoção pessoal, dos políticos que concorriam à reeleição ou de seus
familiares candidatos.
Alvos da Operação
• Deputados: André Correa (DEM), Edson Albertassi (MDB,
nova ordem de prisão), Chiquinho da Mangueira (PSC), Coronel Jairo (SD), Jorge
Picciani (MDB, nova prisão), Luiz Martins (PDT), Marcelo Simão (PP), Marcos Abrahão
(Avante), Marcus Vinicius “Neskau” (PTB) e Paulo Melo (MDB, nova prisão)
• 6
assessores na Alerj
• 3 alvos do Detran
• 2 do governo
• 1 no grupo
Facility/Prol
“Mensalinhos” e “prêmios” pagos na Alerj*
• André Correa (DEM): R$ 100 mil/mês
• Edson Albertassi (MDB): R$ 80 mil/mês + R$ 1 milhão
• Chiquinho da Mangueira (PSC): mais de R$ 3 milhões
• Coronel Jairo (SD): R$ 50 mil/mês + prêmio
• Jorge Picciani (MDB): R$ 400 mil/mês + prêmio
• Luiz Martins (PDT): R$ 80 mil/mês + R$ 1,2 milhão
• Marcelo Simão (PP): R$ 20 mil/mês
• Marcos Abrahão (Avante): R$ 80 mil/mês + R$ 1,5 milhão
• Marcus Vinicius “Neskau” (PTB): R$ 50 mil/mês
• Paulo Melo (MDB): R$ 900 mil/mês + prêmio
Nome da operação
Nome da operação
A operação se chama “Furna da
Onça”, por se tratar do nome de uma sala com localização estratégica na Alerj
usada por deputados para rápidas reuniões durante as sessões. Na Assembleia há
uma versão de que o nome “Furna (toca) da Onça” remete ao uso da sala para as
discussões parlamentares mais influentes, nos instantes finais antes das
votações em plenário.
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