O “Rascunho de Genebra”
Eleanor Roosevelt (1884-1962), viúva do presidente
norte-americano Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), comandou desde janeiro
de 1947 o Comitê dos Direitos Humanos, reunido pela ONU, até a adoção dos 30
artigos naquele memorável dezembro de 1948. Considerada a força motriz do
projeto, dona Eleanor liderou um grupo com 18 integrantes de heterogênea
formação cultural, política e religiosa, elaborando o que ficou conhecido como
o “Rascunho de Genebra”, em setembro de 1948, apresentado e submetido à aprovação
dos mais de 50 países membros. É com grande orgulho que recordamos a
participação do ilustre jornalista brasileiro, meu dileto amigo, Austregésilo
de Athayde (1898-1993), um dos mais destacados colaboradores desse
extraordinário trabalho. Ele também ocupou a presidência da Academia Brasileira
de Letras (ABL) e do Conselho de Honra para a construção do ParlaMundi da
Legião da Boa Vontade, em Brasília/DF.
A almejada liberdade
Ao longo das eras, o estudo do Direito foi sendo
aperfeiçoado, a fim de dar garantias cada vez mais sólidas à sociedade. O
século 20, por exemplo, nos legou um imenso aprendizado por meio de sucessivas
conquistas civis.
Em homenagem a tantos ativistas que, ao longo da História,
almejaram liberdade e condições dignas de vida, e em contribuição a tão
significativo marco, trago-lhes trecho de modesta palestra que proferi,
publicada, entre outros, em Reflexões e Pensamentos — Dialética da Boa Vontade
(1987) e no Manifesto da Boa Vontade (21 de outubro de 1991):
Acreditar que possa haver direitos sem deveres é levar ao
maior prejuízo a causa da liberdade. Importante é esclarecer que, quando aponto
os deveres do cidadão acima dos seus próprios direitos, em hipótese alguma
defendo uma visão distorcida do trabalho, em que a escravidão é uma de suas
facetas mais abomináveis.
Por isso, queremos que todos os seres humanos sejam
realmente iguais em direitos e oportunidades, e cujos méritos sociais,
intelectuais, culturais e religiosos, por mais louvados e reconhecidos, não se
percam dos direitos e liberdades dos demais cidadãos. Porquanto, Liberdade sem
responsabilidade e Fraternidade Ecumênica é condenação ao caos. Almejamos ainda
uma sociedade em que Deus e Suas Leis de Amor e Justiça inspirem zelo à
liberdade individual, para garantir segurança política e jurídica a todos, como
nos suscita o Natal do Cristo de Deus. Falo do Criador Supremo, não do errôneo
entendimento que procura fazer Dele, que é Amor, instrumento execrável de
fanatismo e tirania, preconceito e ódio. Consequentemente, não me refiro ao
deus antropomórfico, caricato, criado à imagem e semelhança do homem
imperfeito. (...)
As virtudes reais serão aquelas constituídas pela própria
criatura na ocupação honesta dos seus dias, na administração dos seus bens e no
respeito pelo que é alheio, na bela e instigante aventura da vida. Uma nação
que se faça de tais elementos será sempre forte e inviolável.
Desejo que, em pleno século 21, consigamos consolidar esses
ideais e expandi-los aos povos da Terra, para que sejam plenamente vivenciados.
E jamais repetir o século 20 naquilo em que ele foi um fracasso.
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