O estupro de uma jovem de 16 anos por 33 homens chocou o
país. Além da violência física, divulgaram na internet vídeo com imagens da
menina desacordada, enquanto seu corpo era manipulado tal como um objeto. O
caso trouxe à tona discussões permanentes nos movimentos sociais feministas,
tais como a violência contra a mulher e a cultura do estupro.
Na contramão da defesa das mulheres, alguns setores
contorceram o debate para duas frentes evidentemente machistas: pesquisar
características específicas da vítima, com o objetivo de culpabilizá-la pela
violência sofrida, ou seja, fazer parecer que ela é a culpada, e fomentar
discursos de ódio e incremento da penalização, com defesa de pena de morte ou
castração química.
O debate sobre o estupro merece sempre ter o mesmo ponto de
destaque, que é o machismo estrutural e enraizado em nossa sociedade,
construindo e reproduzindo diariamente a cultura do estupro. Cultura, cuja
realidade é de uma mulher estuprada a cada 11 minutos. Portanto, não há
tentativas de culpabilização da vítima que expliquem esse número. Tampouco é
possível buscar limitar suas liberdades garantindo que “não aconteceria se
estivessem em casa”, uma vez que, segundo o Ipea, 70% dos estupros são
cometidos por parentes, namorados ou amigos da vítima.
Se o centro da questão é o machismo,o patriarcado e a
cultura do estupro, não será a violência ou discursos de ódio oportunistas que
resolverão a questão. Nos últimos dias, alguns grupos que nunca se colocaram em
defesa da discussão de gênero se aproveitaram do momento para fomentar punições
que não dialogam com a raiz do problema, já que não querem transformar essa
realidade.
O momento é de fomentar a discussão sobre gênero, liberdade,
emancipação e empoderamento, para que nunca mais se esqueçam e nunca mais
aconteçam casos de estupro seja por 33, seja por 1. São as mulheres por elas
mesmas e só a educação e a discussão de gênero transformarão a realidade
machista que enfrentamos diariamente.
João Tancredo é advogado
Maria Isabel é acadêrmica em Direito
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