Conselho Municipal de Saúde em busca da atenção integral aos portadores da doença, que já conta com atendimento no Hemocentro
(SECOM/NF) Antecipando-se à Semana Nacional da Consciência Negra (14 a 21/11), a reunião mensal do Conselho Municipal de Saúde na noite da última segunda-feira, 09, teve como tema principal a 'anemia falciforme', doença hereditária que prevalece na população negra. O encontro aconteceu no Centro de Saúde Silvio Henrique Braune (Suspiro), com as presenças do Secretário municipal de Saúde, médico Ostwald Dantas dos Santos Filho, presidente do Conselho, de representantes de entidades que integram o organismo e convidados.
Integrante da equipe de coordenação Estadual de Saúde no Programa de Saúde da População Negra do Rio de Janeiro e do Grupo de Trabalho (GT) de Falcêmicos, Ilka Maria do Carmo foi convidada pela presidente do Centro Cultural Afro Brasileiro(CCAB) Ysun-Okê, em Nova Friburgo, Ilma Santos, para falar sobre o assunto. O principal objetivo é destacar os problemas de saúde enfrentados pela população negra.
Doença genética
A anemia falciforme, doença genética trazida para o Brasil por meio da vinda forçada de negros africanos e surgida, possivelmente, na África, segundo Ilka, provoca discussões em diversos setores, além da saúde: educação, assistência social, trabalho, cultura, entre outros, “pois necessita de políticas públicas específicas à população negra”.
Por uma mutação genética, os glóbulos vermelhos possuem a forma de uma foice (ou meia lua), o que os tornam mais rígidos, dificultando o transporte de oxigênio e, consequentemente, a obstrução dos vasos sanguíneos, acarretando dor nas articulações, do dedo do pé à cabeça.
Com o uso de slides, Ilka apresentou um breve resumo ao público presente, que por ser ligado à área de saúde, já tinha conhecimento do assunto. Entre os sinais da anemia foram relacionados: crise de dor nas articulações, infecções, úlceras de perna, AVC (Acidente Vascular Cerebral), icterícia. No caso das úlceras de perna, a dor é intensa e de cicatrização muito difícil, enquanto a icterícia é uma doença que pode ser confundida com a hepatite, entre outras.
Ao relacionar os cuidados básicos para quem tem anemia falciforme, Ilka informa que, embora não haja cura, o problema é tratável, sendo possível ter uma vida normal: “é recomendado ingerir três litros de água por dia; respeitar a grade de vacinas comum a todos; não ingerir bebidas alcoólicas; não fumar; evitar esforço físico; respeitar as consultas médicas; evitar locais onde o ar é rarefeito e ter alimentação saudável”.
A palestrante destacou algumas informações: a anemia falciforme só pode ser diagnosticada através do 'Teste do pezinho' (obrigatório desde o ano de 2000), 'Teste de afoiçamento' e 'Eletroforese de hemoglobina'; no Estado do Rio de Janeiro, há tratamento no Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemo-Rio), no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (Hospital do Fundão), Hospital da Lagoa, Hospital Jesus, Hospital Universitário Pedro Ernesto, entre outros.
Segundo ainda Ilka, em 25 de outubro de 2007, foi assinado entre os governos municipal de Nova Friburgo e estadual um 'Termo de Adesão à Política de Atenção Integral às pessoas com Anemia Falciforme'. “Dados do Hemorio, da época, apresentaram um total de nove casos da doença, sendo seis crianças (0 a 12 anos); um adolescente (13 a 18 anos) e dois casos na faixa-etária acima de 18 anos, segundo esclareceu Ilka, contando com a ajuda de Eliane Santos, do CCAB Ysun-Okê, num universo em que “45% da população friburguense é negra e de afro-descendentes”.
Atenção Integral à Saúde da População Negra:Hemocento no hospital já atende a pacientes
Ainda sobre o atendimento dos casos em Nova Friburgo, em função do termo assinado há dois anos, os profissionais de saúde presentes à reunião se comprometeram em buscar mais informações. O ginecologista Alexandre Vieralves de Castro, representando o Sindicato dos Médicos, questionou os números de casos da doença apresentados e solicitou atualização. Ilka se prontificou a providenciar, repassando dados atualizados ao Conselho de Saúde.
Segundo o secretário municipal de Saúde e presidente do CMS, médico Ostwald Dantas dos Santos Filho, o Hemocentro de Nova Friburgo, que funciona anexo ao Hospital Municipal Raul Sertã, já está atendendo e orientando os pacientes, não só da cidade, mas da região, que apresentam quadro de anemia falciforme e traço falcêmico (alteração genética herdada de um dos pais que não é suficientemente forte para se manifestar como doença), além de outras hematopatias.
Também a coordenadora do Departamento de Saúde Coletiva, Suely Scotelaro, informa que o atendimento ambulatorial desses casos, no próprio Hemocentro, é feito de segunda a sexta-feira, das 8 horas às 14 horas. “A partir desta segunda-feira, 16, será feita a atualização do cadastro dos pacientes para ser encaminhado ao HemoRio. O serviço é disponibilizado para atendimento aos pacientes, mas também para tirar dúvidas de qualquer pessoa quanto ao assunto”, acrescentou.
Em relação às Políticas de Saúde Integral à População Negra, todos concordaram em questões como: incluir o quesito cor nos instrumentos de coletas de dados nos sistemas de informações dos serviços voltados à saúde; organizar um comitê técnico ou instância similar dentro do Conselho Municipal de Saúde para monitorar e avaliar o impacto da implementação das políticas públicas em seus âmbitos; articular intersetorialmente e sugerir parceria com instituições não governamentais, além de utilizar materiais informativos sobre anemia falciforme ao maior número possível de pessoas, entre outras medidas.
Ilma Santos, do CCAB Ysun-Okê, lembrou que no ano passado foi constituído o Centro de Referência da População Negra em Nova Friburgo, o qual ainda não foi implementado: “precisamos fazê-lo funcionar com uma equipe multidisciplinar”. – defendeu, sendo que o assunto também entrou para a pauta de políticas públicas a serem discutidas pelo Conselho Municipal de Saúde.
A palestrante Ilka aproveitou a ocasião para fazer um convite: no próximo dia 10 de dezembro, na Alerj, será realizado seminário sobre a 'classe hospitalar': ‘crianças internadas em hospitais não precisam interromper seus estudos’, “uma vez que profissionais de educação capacitados podem lidar com os sintomas da anemia falciforme com um olhar diferenciado, onde cada profissional assuma suas responsabilidades e as informações circulem, sem preconceito”.
Segundo ainda ela, “uma grande ação será realizada em 21 de março de 2010, Dia Internacional de Combate ao Racismo, quando todo o Brasil ouvirá falar sobre 'anemia falciforme', ocasião em que serão distribuídas cartilhas com uma linguagem acessível a todos; e outras doenças como hipertensão, além de religiosidade e saúde. Em 2010 completam os cem anos que a anemia falciforme foi descoberta”, acrescentou Ilka Maria do Carmo.
Reunião debateu Políticas Públicas de atendimento aos portadores da anemia falciforme.
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