terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Brasil: 3 Presidentes governaram num ambiente de comunicação multimídia

A avaliação do presidente Lula no entorno de 80% positivos é certamente muito superior ao que seria uma avaliação -digamos- técnica de seu governo. Uma hipótese de análise é que só num ambiente multimídia isso seria possível. O Brasil conviveu com apenas três presidentes nesse ambiente: Collor, FHC e Lula. Collor encerrou, no Brasil, um ciclo inaugurado em 1960 nos EUA: o da publicidade política apoiada na televisão. FHC governou num período de transição, com a entrada da internet na política, a capilarização da comunicação política e a informação política online. Lembre-se que a inauguração da blogosfera na política só ocorreu em 2004 nas eleições presidenciais nos EUA e no Brasil em 2005.

Esse novo ambiente multimídia, capilarizado e online, introduz um jogo de alto risco. Quando um presidente inaugura uma obra, apresenta um projeto ou um programa localizados, cria a sensação que esse será generalizado. Com isso, cria expectativa para todo o país pela cobertura do evento em rede e capilarização em seguida. Fatos positivos ocorrendo numa conjuntura favorável criam a sensação que isso chegará a todos os lugares e famílias. Assim se generaliza. E se passa a avaliar um governo também pelo que ele não fez ainda. Ou nunca fará.

Os fatos negativos de forte impacto produzem o mesmo efeito, mesmo que esse impacto não tenha alcançado todas as regiões. Cria-se a sensação que os fatos negativos terminarão chegando a todos os lugares. Exemplo disso é o segundo governo FHC, onde nem os fatos positivos, como o auge do agronegócio, a expansão de programas de inclusão social, a curva de expansão do alcance da educação e da saúde não conseguiram compensar as notícias negativas e nem manter a memória do plano real e de reformas de estado. Afinal, a crise de 1997/1998 chegou no bolso das empresas e da classe média e, com isso, a repercussão foi mais que potencializada pelos seus efeitos através de todas as mídias.

Outro fator é o tempo em que os fatos são diluídos e renovados num ambiente multimídia online. A velocidade da entrada de novos fatos exige que a comunicação dos governos siga a máxima de Dick Morris: "Todo dia é dia de eleição". Na medida em que a conjuntura é favorável, os fatos criados estimulam a percepção que todos esses chegarão a todos os lugares.

Um governo que disputa a reeleição está, hoje, entre duas linhas horizontais paralelas. A de cima é de um governo excepcional onde tudo foi favorável. Lula certamente não foi esse governo. Basta ver a avaliação das funções de governo, que no máximo lhe dariam uns 40% de avaliação positiva. Abaixo da linha inferior seria um governo catastrófico, que não teria a menor chance nem de concorrer. Digamos que a linha de cima seja nota 8 e a de baixo nota 2. Entre as duas a reeleição depende da performance do governo percebida em função da comunicação na campanha eleitoral. Naqueles 90 dias.

Basta, para isso, acompanhar as pesquisas antes da eleição -posição em maio-junho- e durante a eleição. São muitos os casos em que o prefeito ou governador abre com 30% de aprovação e termina a eleição com mais de 50% de aprovação, como se o governo fosse o mostrado na propaganda eleitoral. Vale dizer: um bom governo não é garantia de vitória eleitoral hoje. E um mau governo não é garantia de derrota. Naquela faixa de 2 a 8.

Com isso, hoje, governar e comunicar passam a ter pesos quase semelhantes. E se a conjuntura não é de desastre, um governo medíocre pode ser percebido como um bom governo e um bom governo pode ser percebido como um governo medíocre. Os fatos específicos generalizados num ambiente de multimídia podem construir ou desconstruir imagens. Hoje, no Brasil, a TV aberta ainda é o ponto fulcral. O mundo da TV é mais simples. Em breve, com a complexidade e a descentralização das mídias a função comunicação se tornará muito mais complexa. Não bastará gastar dinheiro público em publicidade formal nem forçar a presença diária nos telejornais.

Ex-Blog César Maia

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