Sem revalidação de diplomas, quatro mil médicos cubanos estão chegando ao Brasil
trabalhar pelo programa “Mais Médicos”. O anúncio foi feito na quarta-feira
(21) pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Os deputados Vaz de Lima
(SP) e Raimundo Gomes de Matos (CE) classificaram a
medida de “irresponsável” e “eleitoreira”.
É mais uma demonstração de que o país não está agindo bem no que diz respeito
à saúde, na visão de Vaz de Lima. O tucano criticou a forma irresponsável como o
governo do PT vem tratando a formação desses profissionais, sem uma política
clara que os incentive.
O governo formalizou ontem uma parceria com a Organização Pan-Americana da
Saúde (Opas) para viabilizar a vinda dos cubanos e disse que o primeiro grupo de
400 profissionais de Cuba chegará ao país neste fim de semana. Eles vão trabalhar em 701 cidades,
84% localizadas nas regiões Norte e Nordeste.
Sobre o revalida, Vaz de Lima lembrou que esse foi um compromisso assumido
pelo governo, mas depois houve recuo. “O governo vai trabalhar com a ideia de
ter dois tipos de médicos no país: o de 1ª classe e o de 2ª classe. Outro ponto
grave é que em vez de pagar os médicos, o dinheiro
será encaminhado ao governo cubano, que, segundo consta, repassará para os
profissionais 30%. Um equívoco do governo. Quer jogar a população contra os
médicos brasileiros. Não é uma forma responsável de se fazer política pública na
área”, completou.
Outro problema, destacou, é a falta do domínio do português, que pode colocar
em risco a saúde da população. “É uma medida eleitoreira. Não adianta apenas
encaminhar o médico para esses lugares se não tem infraestrutura, equipamentos,
entre outros. É mais uma medida de marketing, como tudo que vem desse governo”,
afirmou.
Gomes de Matos considera lamentável que o ministro continue insistindo nessa
ideia. Na opinião do tucano, a iniciativa é irresponsável, pois os profissionais
não terão condições trabalhistas e vão para regiões desconhecidas sem conhecer
os hábitos alimentares.
O deputado defende plano de carreira para os médicos do país e melhorias no
sistema público de saúde. “Por que o Judiciário tem profissionais no interior?
Porque remunera bem e tem toda uma estrutura. Já na saúde o mesmo não ocorre. É
um contrassenso que o governo vem fazendo nessa insistência de trazer médicos do
exterior”, concluiu Gomes de Matos, que considera grave a liberação do exame de
revalidação para os estrangeiros.
Em plenário, Eduardo Azeredo (MG) demonstrou preocupação com
a atitude do governo. “Nós precisamos saber de que forma será feita essa
importação, se haverá revalidação dos diplomas, se o pagamento dos salários
chegará aos médicos e se eles poderão trazer a família”, defendeu.
Ele acredita que a Comissão de Direitos Humanos precisa se posicionar sobre o
assunto. “Que não tenhamos o risco de ter um tipo de trabalho que se assemelha
ao próprio trabalho escravo, em que eles receberão, em vez dos 4 mil dólares que
o governo brasileiro vai pagar, algo em torno de 30”, destacou.
Para Azeredo, a solução para a saúde pública não é tão superficial. “Nós
temos a solução para a saúde: mais recursos, uma série de outras providências,
como a questão do mínimo de 10% para esta área ser utilizada, como já acontece,
com o mínimo de 12% para os Estados e o mínimo de 15% para os Municípios.
Portanto, 10% mínimo para a saúde. Essa, sim, é uma solução, e não apenas
importar médicos estrangeiros”, argumentou.
As entidades médicas também criticaram duramente a decisão do Ministério da
Saúde. “Sem a devida revalidação de seus diplomas e sem comprovar domínio do
idioma português, desrespeita a legislação, fere os direitos humanos e coloca em
risco a saúde dos brasileiros”, alertaram.
Condições diferenciadas
→ Os profissionais de Cuba terão condições diferentes das dos demais
estrangeiros atraídos ao país. Não receberão diretamente a bolsa de R$ 10 mil
mensais do governo brasileiro. A quantia será repassada ao governo de Cuba, que
fará a distribuição a seu critério.
→ A chegada de mais dois mil cubanos está prevista para outubro, quando
começará o segundo módulo de treinamento do programa. Padilha explicou que esses
estrangeiros passarão pelo mesmo processo de avaliação, com duração de três
semanas, ao qual serão submetidos os demais médicos com diploma no
exterior.
→ O primeiro módulo começará na segunda-feira em Recife, Salvador,
Brasília e Fortaleza. Os médicos aprenderão conteúdos relacionados à legislação
do sistema de saúde brasileiro, funcionamento e atribuições do SUS e língua
portuguesa.
Matéria disponível em áudio: Clique aqui
Reportagem: Letícia Bogéa
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