Em seu novo artigo, o advogado Marcos Espínola comenta sobre
a elitização do carnaval e como essa festa feita pelo povo, deixou de ser para
o povo. Além de comentar sobre o enredo vencedor do Carnaval 2015, Guiné
Equatorial, feito pela Beija-Flor.
A cada carnaval, nos deparamos com inovações que nos fazem
distanciar cada vez mais da essência dos carnavais de rua, especialmente no Rio
de Janeiro. As marchinhas, as fantasias originais, as brincadeiras em família
num clima quase ingênuo. Hoje, nos deparamos com a violência e os excessos que
vão desde o consumo de álcool e outras drogas, passando pela permissividade e
sexualidade desacerbada, até a ostentação que chegou às escolas de samba que
promovem o maior carnaval do planeta. Uma ditadura imposta já há alguns anos,
no qual o luxo e a riqueza se tornaram a prioridade.
Sabemos que o progresso nos traz um pouco de tudo. No
entanto, é perceptível que em vários segmentos a evolução trouxe inovações que
fez com que se perdesse o foco da origem, da razão de ser. E tem sido assim no
carnaval das últimas décadas, no qual a comunidade, o samba no pé e a
empolgação das agremiações deram passagem para fantasias cada vez mais pesadas
e repleta de acessórios que impedem o sambar. A animação dos componentes perde
a atenção do público quando as alegorias de led e animações pirotécnicas entram
na avenida.
O carnaval de hoje não é mais para o povo, para a comunidade
humilde usufruir e curtir depois de um ano de duro trabalho no barracão. Ficou
praticamente restrito a um grupo de alto poder aquisitivo e de celebridades que
assiste aos desfiles nos camarotes e frisas, tendo a melhor fatia da festa. E o
povo, os poucos que conseguem o acesso, se espreme nas arquibancadas, expostos
ao tempo, à chuva. Um dos maiores cantores e intérpretes brasileiros, Zé
Ramalho, relatou muito bem isso na canção “Cidadão”, do compositor Lúcio
Barbosa. Nela é contada a história de um operário que ajudou a levantar
prédios, construir escolas e igrejas, mas em todos esses lugares é impedido de
entrar.
Com patrocínio de um ditador africano, a Beija-Flor venceu e
ratificou que o carnaval virou uma indústria, no qual a ética, moral e bom senso
não são considerados na avaliação da origem do dinheiro. Pouco importa se na
Guiné Equatorial mais de 75% da população vive abaixo da linha da pobreza, pois
o importante foi o espetáculo.
Qualquer semelhança é mera coincidência (ou não) com a nossa
realidade. Pouco nos importamos que cerca de 20 milhões de brasileiros ainda
vivem em pobreza extrema, sem acesso ao saneamento básico, à saúde e educação
de qualidade. Não estamos atentos que na própria cidade maravilhosa, palco do
evento, ainda nos deparamos com carências básicas, pois o show não pode parar.
A folia é ditatorial.
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