O I Festival Literário “A Nova Friburgo que eu sonho” a ser
realizado no próximo dia 5 de julho, às 18h30, no Teatro Municipal Laercio
Rangel Ventura, na Praça do Suspiro, marcará o lançamento oficial do livro
elaborado por alunos e alunas da Educação de Jovens e Adultos (EJA), projeto
desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação em Nova Friburgo.
O evento, já grandioso por promover e difundir a importância
da educação, torna-se ainda mais importante e simbólico por conta do lançamento
da obra totalmente elaborada por estudantes da EJA. Desde os textos e poesias
até as ilustrações contidas no livro, tudo foi feito por alunos e alunas de
idades variadas e histórias de vida ainda mais distintas e inspiradoras.
A Educação de Jovens e Adultos é um programa em atividade em
dezenas de escolas do município e é voltado para pessoas de todas as idades
que, por algum motivo, abandonaram a escola ou simplesmente não tiveram a
oportunidade de estudar, mas desejam retomar ou iniciar os estudos.
No livro, que traz poesias e alguns desenhos inspirados no
amor à cidade (e que será lançado durante o I Festival Literário), transparece
diversas histórias de superação, determinação e lições de vida desses
alunos, que também têm muito a ensinar, como a dona Maria Otília de Paiva Machado, de 87 anos. Portuguesa, que veio
para o Brasil na década de 60, morou em Brasília e Rio de Janeiro até vir para
Nova Friburgo, há cerca de oito anos. Mãe de uma professora da rede municipal,
dona Maria Otília é casada, cuida de uma filha com necessidades especiais e,
mesmo assim, consegue conciliar tudo isso com as aulas na Escola Municipal
Cipriano Mendes da Veiga, em Barracão dos Mendes, na zona rural do município.
“Quando viemos para Nova Friburgo falei com minha filha
Fátima: ‘o que eu quero de você, é que me matricule em uma escola’. Depois que
comecei não parei mais. Fui até o 5º ano na Escola Municipal Hermínia da Silva
Condack, em Campo do Coelho. De lá fui para a Escola Municipal Cipriano Mendes
da Veiga, em Barracão dos Mendes, onde minha filha também leciona. Gosto muito
de ler e escrever. Estou muito contente. Quero continuar estudando. Se eu
continuar, todos estão convidados, com 100 anos farei minha formatura. O estudo
para mim é tudo na vida. Adoro”, revelou dona Maria Otília.
Bastante comunicativa e orgulhosa por fazer parte do livro
da EJA, dona Maria Otília usou o bom humor para explicar aos mais jovens a
importância dos estudos, independente da idade: “Estou muito feliz com a
oportunidade e muito empolgada para o lançamento do livro. Se eu posso dar um
conselho, jamais abandonem os estudos, seja qual for a idade. Meu marido diz
que quem vai para escola com a minha idade é maluco. Então eu quero morrer
maluca, burra não”.
Com 64 anos a menos que a dona Maria Otília, a jovem
Danielle Jandre da Silva, de 23 anos, redescobriu o prazer e a importância dos
estudos, após alguns anos afastada da escola. Ela conta que parou de estudar
após ficar grávida, mas agora já está cursando o 9º ano no Colégio Municipal
Dermeval Barbosa Moreira, em Olaria, e se forma agora em julho.
“Por incrível que pareça, eu não gostava de ler, nem de
escrever. Eu escrevi a poesia sem a intenção de entrar para o livro, mas gostei
muito do resultado. Pretendo continuar escrevendo bastante. Minha intenção é
concluir o ensino médio e fazer faculdade de matemática. O EJA é uma iniciativa
muito importante, porque nem sempre temos a oportunidade de estudar. É uma
chance para que a gente possa recuperar o tempo perdido”, disse Danielle.
Outra história inspiradora é a do seu Walter da Silva
Ribeiro, de 58 anos. Ele é gari da Prefeitura de Nova Friburgo e estuda na sala
montada no Galpão do Trabalhador, na sede do Executivo municipal, através do
projeto Lápis no Papel. Há 45 anos longe dos estudos, o tímido seu Walter
encontrou na leitura e na escrita a oportunidade para se reconectar com o
mundo.
“Hoje em dia, a tecnologia está avançando muito rápido, então
é importante a gente procurar sempre o conhecimento, se aprimorar cada vez
mais. Faz a gente se sentir útil. Também foi muito importante essa oportunidade
de ter uma poesia escrita em um livro. Eu não tinha o hábito de escrever, fui
realmente estimulado por essa oportunidade do livro e pretendo continuar, não
apenas escrevendo, mas assim que terminar o EJA quero dar sequência nos
estudos, se for possível”, projetou Walter.
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